


No dia seguinte bem cedo, Itajara mostrou que talvez Luís Carlos tivesse razão. Quem sabe, com saudades da Gávea, deu vários galopes, com desenvoltura. “O negócio dele é correr, correr. Sede de vitória”, lamentou Luís.


Atualmente, há 173 éguas reprodutoras no Haras São José e Expedictus. Só foram escolhidas 22 para Itajara porque mais de 40% delas são irmãs dele. O acasalamento entre cavalos de raça irmãos é proibido por um código de honra dos criadores, pois pode degenerar a raça. Um cavalo reprodutor costuma acasalar até os 26 anos, mas houve um fenômeno como Fort Napoleon, que acasalou até os 32, quando morreu. Cada ano do cavalo corresponde a 3 anos de um homem. É só fazer as contas.

ÉGUAS NO PASTO DO HARAS SÃO JOSÉ E EXPEDICTUS
A rotina de Itajara em Botucatu não é muito diferente da que vivia na Gávea. Só que, no Rio, ele acordava às 5 da madrugada e ia para o treino pesado, em Botucatu fica no bem-bom até seis, seis e meia, e depois vai para o pasto. Fica solto até 11 horas, quando toma a primeira das 3 rações diárias, que totalizam 12 litros de aveia, alfafa, milho, e , de quebra, uma maçã cortada, por causa dos dentes (ele é tão menino que ainda está perdendo os dentes). À tarde, outro passeio pelo pasto e, às seis, cama. A diferença principal em relação ao Rio será o encontro diário com uma das caríssimas metades ou aventureiras forâneas. Não tão metades mas igualmente apreciadas. “Com Itajara, todo cuidado é pouco”, repete Ângelo. “Todos os dias receberá massagens com essência de morangos.” Essas coisas de reis.
Até a cama de Itajara em seu novo palácio recebe cuidados especiais, como dedetização dia sim, dia não, para arrebentar com as pulgas e outros bichos que se dão ao ultraje de chupar sangue real. As ligas nas mãos (que reis não têm patas) são indispensáveis. Apesar de não sentir mais dores, após cada galope a mão direita incha um pouco. Se no Se no Rio Itajara tinha um cavalariço, Luís Carlos, em Botucatu tem dois, Joaquim Rodrigues de José Aparecido, revezando-se as 24 horas do dia em permanente vigília, observando até seu sono. Qualquer coisinha anormal – insônia, falta de apetite por exemplo – tem de ser imediatamente comunicada a uma equipe de veterinários sempre de prontidão.
Ninguém melhor que Ângelo Spatti para saber dos cuidados de que Itajara precisa. Afinal, noite de 31 de outubro de 1983, foi ele que acompanhou o parto da brasileira Apple Honey, na época esposa do francês Felício, de saudosa memória, que bem esteja. “ Com poucas horas de vida, percebi que Itajara seria um craque”, conta Ângelo. “Cavalo campeão a gente conhece pelo olhar. Quase sempre o cavalo de olhos vivos, que presta atenção em tudo, acaba campeão.” Ângelo já fez mais de 2 mil partos no Haras São José e Expedictus, entre eles os de Orfeus (vencedor de GP Brasil), Obethon, Tibetano, African Boy (tríplice coroado como Itajara), Aporé (GP Brasil), Baronius e Derek (vencedor do Latino-Americano).

Nos 5 primeiros dias de estada do rei-garanhão em Botucatu, Lineu de Paula machado, um dos proprietários, telefonava 3 vezes por dia para Ângelo. Queria saber como ia sua jóia. Os mínimos detalhes do dia-a-dia de Itajara em seus novos domínios. Porque, além do interesse dos criadores americanos e europeus em enviar suas éguas para acasalar com Itajara, a família Paula Machado pensa oferece-lo em casamento também a éguas de alta linhagem pertencentes a outros haras, como o Santa Maria de Araras, Mondesir, todos do Rio Grande do Sul, tudo para valorizar a criação nacional. Afinal, um filho de Itajara é um senhor filho de Itajara. E tome nota: a irmã dele, Love Lorn, 2 anos, vem para o Rio no fim do ano e entra na raia. E todo mundo já diz: é fera também.
APPLE HONEY, MÃE DE ITAJARA, JUNTO A LOVE LORN, IRMÃ DO CRAQUE
LOVE LORN NA PISCINA