Abaixo um texto sobre Itajara, escrito pelo turfman Sergio Barcellos:
Em tupi-guarani, Itajara significa "senhor das pedras." Na verdade, ele foi bem mais que isto. Desde o instante em que pisou as pistas doHipódromo Brasileiro pela primeira vez, tornou-se o senhor inconteste delas. Sua presença na raia atraía milhares de admiradores, entre eles alguns que estavam afastados do turfe de há muito.
Na última apresentação, embora provavelmente já tenha corrido lesionado,venceu quando quis e como quis. E retirou-se invicto, imbatível, jamais usando a plenitude de sua capacidade locomotora como fazem os cavalos excepcionais.
No dia de seu galope de despedida, antes de seguir para a reprodução, novamente lotou as tribunas do hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro. Era um simples galope, não mais que 200 metros, mas a multidão lá estava paraaplaudí-lo, numa última reverência a esta máquina de correr, da brilhante e centenária criação Paula Machado.
Tríplice-coroado aos 3 anos de idade; ganhador dos 1.100 metros na areia aos 3.000 metros na grama pesada; capaz de brincar com os adversários tala sua superioridade, nunca escolheu onde se posicionar durante um páreo.Para ele, isto era irrelevante. Em qualquer lugar onde fosse colocado pelo jóquei, só havia uma certeza depois que as portas do partidor seabriam: no disco de chegada ele estaria na frente. Em qualquer distância,qualquer tipo de raia, liderando a corrida desde o pulo de partida ouesperando a reta para acelerar.
Cavalos assim são capazes de causar emoção estética e ficam para semprena lembrança de quem os viu atuar. É como se o estoque genético de maisde 300 anos de criação do puro-sangue inglês de corrida fosse tocado pelamão do cosmos para gerar o atleta perfeito.
Filho do reprodutor francês, Felício, numa das melhores éguas de sua geração, Apple Honey, Itajara apresentou-se 7 vezes. Ganhou em todaselas. Entre suas principais vitórias, em 1987, estão os três clássicos da tríplice-coroa dos potros: a milha do GP Estado do Rio de Janeiro; oDerby (G.P. Cruzeiro do Sul, 2.400 metros) e o G.P. Jockey Clube Brasileiro, na época disputado em 3.000 metros. Para um animal dotado develocidade explosiva, o progressivo aumento das distâncias parece sempreum problema. Não para ele. Quanto mais chão havia, mais fácil ele oengolia.
Castanho escuro, elegante, físico privilegiado, destacava-se logo dos outros, seja no paddock de apresentação, seja no galope do "canter", acaminho do partidor. Na verdade, estava naquela categoria dos animais quecarregam uma espécie de aura em torno de si. "Você pode não saber o nome dele, mas quando o vê reconhece logo de quem se trata", como diziam os franceses do belíssimo Pharis.
À semelhança dos heróis míticos do esporte, sua trajetória nas pistas estava destinada a ser breve e brilhante, naquele misto de triunfo e tragédia que parece acompanhar os atletas especiais. O estigma do "viver intensamente e morrer jovem" seguiu-o também na reprodução. Já quando seus primeiros filhos começaram a brilhar nos hipódromos daqui e do exterior. Basta mencionar o brasileiríssimo Siphon(na frente dele, mesmo nos EUA, a terra dos velocistas, ninguém jamaisconseguiu correr), para se ter uma amostra do que Itajara poderia ter sidocomo pai de campeões.
Itajara nunca atuou no exterior. Mas não há nenhuma dúvida de que o faria com o mesmo sucesso de suas apresentações entre nós. Ele ficará para sempre em nossas melhores lembranças como um dos mais empolgantes cavalos de corrida do Brasil em todos os tempos.
E é isso que conta.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
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